Maurice
Merleau-Ponty nasceu em Rochefort-sur-Mer e morreu em Paris, foi professor em
vários liceus na França e chegou a lecionar na Universidade de Lyon e na
Universidade Paris-I. Foi um filósofo fenomenológico de capital importância
para o desenvolvimento da psicologia.
Para
Merleau-Ponty a percepção não se constitui em uma via direta do mundo externo
para o mundo interno, mas passa pela história do indivíduo. Enquanto adepto da
corrente fenomenológica existencial da visão do ser, Merleau-Ponty afirmava que
corpo e mente, bem como indivíduo e meio são indissociáveis e que se deve
considerar o organismo como um todo e não como uma simples soma de partes. Para
o filósofo não se pode apreender o mundo em separado do sujeito, e vice-versa,
sujeito e objeto são codependentes e o agente recria os dados a partir de sua
atuação no mundo (o conceito de atuação do homem sobre o mundo é fundamental na
idéia fenomenológica de mente enquanto ação).
Ele
vai além por superar a ideia da percepção enquanto processo basicamente
fisiológico. Para Merleau-Ponty há um processo interior de formulação história
do indivíduo que diz muito sobre sua forma de perceber o mundo à sua volta. A
atenção dada a um determinado objeto diferirá de acordo com as significações
que cada indivíduo pode dar a esse objeto, e essas significações dizem respeito
à história psicológica do ser, não apenas a seu aparato biológico, mas a sua
vivência “espiritual” a percepção não é simplesmente a capitação do estímulo é
a sua interpretação e ressignificação pelo sujeito. E mais:
“Não
pode haver caracterização da percepção puramente fisiológica porque o próprio
fato fisiológico é determinado por leis biológicas e psicológicas. Funções
psíquicas elementares e funções psíquicas superiores não se distinguem por
estarem umas mais ligadas às estruturas fisiológicas do corpo, conforme se
professava antigamente. Essas duas funções se cruzam, visto que o fato mais
elementar dado no corpo já possui em si um sentido e a função superior, por
outro lado, só se realiza mediante a ocorrência de funções elementares que a anexam
ao mundo incorporado do agente.” (BOUYER, 2009)
Assim
como a percepção não permite uma dissociação sujeito-objeto e mente-corpo, não
há percepção isolada do universo.
“Sem
a percepção do todo não é possível a observação de semelhanças, que sequer
estariam no mesmo mundo do agente e não existiriam para ele. É na percepção
como apreensão global de um conjunto que se torna possível uma atitude
analítica do agente, que não discrimina, de maneira indiferente, dados do seu
conjunto contextualizado e integrado. A percepção não se constrói apenas pelas
coisas, mas antes pelos intervalos que existem entre elas, no fluido contextual
que estes intervalos abrigam.” (BOUYER, 2009)
Não
sentimos o mundo apenas com os órgão sensórios, mas em especial com nossa
subjetividade construída historicamente (nesse caso o histórico diz respeito à
história individual e à história geral do homem). E mais, nosso sentir não é
passivamente captar o mundo, mas atuar sobre ele. Toda percepção é em si uma
ação do sujeito. Também não percebemos formas, cores, objetos etc. sem as
construções que temos de cada coisa e sem a possibilidade de comparar a(s)
realidade(s) com a nossas projeções e com o mundo que cerca cada sujeito e cada
objeto.
Resumo feito pro João Rodrigues.
BOUYER, Gilbert
Cardoso; Percepção e trabalho na fenomenologia de Merleau-Ponty. Ouro Preto-MG,
2009. Universidade
Federal de Ouro Preto (UFOP). [Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=percep%C3%A7%C3%A3o%20e%20trabalho%20na%20fenomenologia%20de%20merleau-ponty&source=web&cd=1&ved=0CCMQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.cienciasecognicao.org%2Frevista%2Findex.php%2Fcec%2Farticle%2Fview%2F132%2F99&ei=B2XiTvS0CIPa0QGJ54HJBQ&usg=AFQjCNEQj7UiuBuGOrl6pcWb9A3T4u4ScA&sig2=cgbxFtGWKsW3QVROH0AtvA&cad=rja]
Interessante.. O mais óbvio é que a percepção do garoto cria para ele uma realidade subjetiva, diferente da visão da mãe e do telespectador. O mais incrível é que essa realidade é a que impera no mundo pessoal dele e na qual ele desenvolve sua existência. No texto, após o vídeo, o autor esclarece que a percepção não é uma via direta entre o mundo externo e o interno, pois esse caminho é, obrigatoriamente mediado pelo sujeito e sua história de vida.
ResponderExcluirObservem que o autor esclarece a ressignificação do objeto percebido, com base na história do indivíduo, como se esta fosse o próprio processo de internalização.
Se isso realmente procede, o conceito de realidade cai por terra, pela impossibilidade de qualquer pessoa ter acesso a ela.