domingo, 11 de dezembro de 2011

A Percepção na perspectiva fenomenológica de Merleau-Ponty


Maurice Merleau-Ponty nasceu em Rochefort-sur-Mer e morreu em Paris, foi professor em vários liceus na França e chegou a lecionar na Universidade de Lyon e na Universidade Paris-I. Foi um filósofo fenomenológico de capital importância para o desenvolvimento da psicologia.

Para Merleau-Ponty a percepção não se constitui em uma via direta do mundo externo para o mundo interno, mas passa pela história do indivíduo. Enquanto adepto da corrente fenomenológica existencial da visão do ser, Merleau-Ponty afirmava que corpo e mente, bem como indivíduo e meio são indissociáveis e que se deve considerar o organismo como um todo e não como uma simples soma de partes. Para o filósofo não se pode apreender o mundo em separado do sujeito, e vice-versa, sujeito e objeto são codependentes e o agente recria os dados a partir de sua atuação no mundo (o conceito de atuação do homem sobre o mundo é fundamental na idéia fenomenológica de mente enquanto ação).

Ele vai além por superar a ideia da percepção enquanto processo basicamente fisiológico. Para Merleau-Ponty há um processo interior de formulação história do indivíduo que diz muito sobre sua forma de perceber o mundo à sua volta. A atenção dada a um determinado objeto diferirá de acordo com as significações que cada indivíduo pode dar a esse objeto, e essas significações dizem respeito à história psicológica do ser, não apenas a seu aparato biológico, mas a sua vivência “espiritual” a percepção não é simplesmente a capitação do estímulo é a sua interpretação e ressignificação pelo sujeito. E mais:



“Não pode haver caracterização da percepção puramente fisiológica porque o próprio fato fisiológico é determinado por leis biológicas e psicológicas. Funções psíquicas elementares e funções psíquicas superiores não se distinguem por estarem umas mais ligadas às estruturas fisiológicas do corpo, conforme se professava antigamente. Essas duas funções se cruzam, visto que o fato mais elementar dado no corpo já possui em si um sentido e a função superior, por outro lado, só se realiza mediante a ocorrência de funções elementares que a anexam ao mundo incorporado do agente.” (BOUYER, 2009)



           

Assim como a percepção não permite uma dissociação sujeito-objeto e mente-corpo, não há percepção isolada do universo.



“Sem a percepção do todo não é possível a observação de semelhanças, que sequer estariam no mesmo mundo do agente e não existiriam para ele. É na percepção como apreensão global de um conjunto que se torna possível uma atitude analítica do agente, que não discrimina, de maneira indiferente, dados do seu conjunto contextualizado e integrado. A percepção não se constrói apenas pelas coisas, mas antes pelos intervalos que existem entre elas, no fluido contextual que estes intervalos abrigam.” (BOUYER, 2009)





Não sentimos o mundo apenas com os órgão sensórios, mas em especial com nossa subjetividade construída historicamente (nesse caso o histórico diz respeito à história individual e à história geral do homem). E mais, nosso sentir não é passivamente captar o mundo, mas atuar sobre ele. Toda percepção é em si uma ação do sujeito. Também não percebemos formas, cores, objetos etc. sem as construções que temos de cada coisa e sem a possibilidade de comparar a(s) realidade(s) com a nossas projeções e com o mundo que cerca cada sujeito e cada objeto.

Resumo feito pro João Rodrigues.




BOUYER, Gilbert Cardoso; Percepção e trabalho na fenomenologia de Merleau-Ponty. Ouro Preto-MG, 2009. Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). [Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=percep%C3%A7%C3%A3o%20e%20trabalho%20na%20fenomenologia%20de%20merleau-ponty&source=web&cd=1&ved=0CCMQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.cienciasecognicao.org%2Frevista%2Findex.php%2Fcec%2Farticle%2Fview%2F132%2F99&ei=B2XiTvS0CIPa0QGJ54HJBQ&usg=AFQjCNEQj7UiuBuGOrl6pcWb9A3T4u4ScA&sig2=cgbxFtGWKsW3QVROH0AtvA&cad=rja]












Um comentário:

  1. Interessante.. O mais óbvio é que a percepção do garoto cria para ele uma realidade subjetiva, diferente da visão da mãe e do telespectador. O mais incrível é que essa realidade é a que impera no mundo pessoal dele e na qual ele desenvolve sua existência. No texto, após o vídeo, o autor esclarece que a percepção não é uma via direta entre o mundo externo e o interno, pois esse caminho é, obrigatoriamente mediado pelo sujeito e sua história de vida.
    Observem que o autor esclarece a ressignificação do objeto percebido, com base na história do indivíduo, como se esta fosse o próprio processo de internalização.
    Se isso realmente procede, o conceito de realidade cai por terra, pela impossibilidade de qualquer pessoa ter acesso a ela.

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